Perdi. Se foi quem eu amava.

Em vida, me pediu: "Quero que seja feita a cremação!"

Como aceitar, do ponto de vista limitado da existência, que o corpo não existirá mais de um instante para o outro? Como desapegar do materialismo que parece trazer força e concretude?

Respiro. E, pelo amor que tenho por aquela alma, faço...

Com um pote em mãos, não tenho nada mais das imagens que minha mente reconhecia como sendo daquele ser tão amado. Mas tenho tudo!

Preciso eternizar! Preciso acreditar que estará sempre comigo, de maneira concreta.

Plantei uma árvore no jardim, e lá foram as cinzas, como nos filmes que já vi... Ideia emprestada, mas que me devolve um sentido. Olhar aquela árvore. Sentir o vento que vem dela. Ver flores. Ver vida! Ter aquela pessoa de volta, viva!

Aos pés da árvore, me questiono: E quando eu for também? Alguém saberá que essa árvore é tudo isso que ela é?
E quando nem eu estiver mais por aqui? Qual será o valor dessa árvore? Irrisório o suficiente para ser derrubada e, sobre ela, cimentarem?

Pinga lágrima. Seco. E me consolo: não importará quando eu não estiver. Porque, enquanto eu estou, celebro você, que já foi!