"Nem a minha mãe sabe disso. Eu falo sobre isso só com você..."

Ouvi isso numa tarde de segunda-feira, de um paciente.

A semana apenas começava, minha voz já dava sinais de cansaço e rouquidão, mas aquelas palavras me libertaram de qualquer possibilidade de limitação.
Que responsabilidade eu tinha ali!

Ele seguiu o discurso, e minha mente teve que fazer um esforço enorme para acompanhá-lo, enquanto processava o impacto que aquela frase havia me causado.

Mal sabia ele, mas aquela informação, dita de maneira tão natural, desencadeou um fluxo gigantesco de sentimentos, acelerou meus pensamentos, deixou-me perplexa...

Que poder eu tinha nas minhas mãos? Por quê?
Como eu poderia imaginar ser comparada à maior figura de afeto de alguém, sua mãe?
Como essa mãe se sentiria?
Feliz, em saber que o filho, finalmente, estava se abrindo e se esvaziando de uma dor?
Ou triste, por não ter sido a escolhida para ouvir aquilo?

Eu não sei...
É arriscado demais supor como ela se sentiria, se eu mesma já tinha complexidade suficiente para lidar com meus próprios sentimentos!

Como acolher aquele turbilhão que se formava?
Gratidão. Alegria. Reconhecimento. Valorização. Medo. Responsabilidade. Vínculo. Profissionalismo. Acolhimento. União.

Aquela segunda-feira me lembrou, mais uma vez, algo que minha profissão sempre me ensina:
quanta responsabilidade! E quanta beleza...

Ouvir de alguém o tamanho da minha importância na sua trajetória, em uma história em que sei muito bem o papel que sua mãe representa...

Eu estava ali, reconhecida por uma comparação que ele fez questão de usar para enfatizar o espaço que eu ocupava.

Ele seguiu, narrou...
E não teve a dimensão do quanto aquilo foi bonito para mim, que também sou humana e vivo sendo tocada.

Ele provavelmente se lembrará de mim para sempre, visto a responsabilidade que tive em um momento de sua dor...
E eu, com toda certeza, lembrarei da responsabilidade e da troca afetiva que tive na história dele!